O Mapa do Delivery no Brasil: Como as Preferências de Delivery Variam Entre as Principais Cidades – Parte 2

No primeiro artigo desta série, revelamos como cada categoria de delivery tem sua própria geografia no Brasil. Mostramos que João Pessoa consome mais pizza proporcionalmente que São Paulo, que a marmita cresce silenciosamente em cidades médias, e que existe um gap impressionante entre oferta e demanda em várias praças.

Agora, vamos inverter a lente: em vez de olhar categoria por categoria, vamos explorar cidade por cidade. Afinal, se o primeiro artigo respondeu “o que vende onde”, este responde uma pergunta ainda mais estratégica: “qual é a personalidade gastronômica de cada mercado?”

Com dados exclusivos das últimas 4 semanas de vendas, cobrindo mais de R$ 5 bilhões em vendas, descobrimos que cada cidade brasileira tem seu próprio DNA de consumo – e ignorar essas particularidades pode ser fatal para seu negócio.

O Cenário Nacional: Contexto para Entender as Variações Locais

O mercado brasileiro de delivery movimentou mais de R$ 5 bilhões dentro das plataformas nas últimas 4 semanas, superando mais uma vez a marca de 100 milhões de pedidos. Como mostramos no artigo anterior, as três categorias dominantes nacionalmente são:

  • Lanches (27% do mercado) – R$ 1,36 bilhão em vendas
  • Pizza (19%) – R$ 940 milhões movimentados
  • Comida Brasileira (16%) – R$ 790 milhões em receita

Mas se no primeiro artigo descobrimos que pizza em João Pessoa tem demanda reprimida (28% da receita com apenas 14% das lojas), agora vamos entender o contexto completo: o que mais caracteriza cada mercado além de suas preferências por categoria?

Sudeste: O Coração Pulsante do Delivery Nacional

São Paulo: O Laboratório de Tendências

Como destacamos anteriormente, São Paulo tem a melhor relação receita/loja em Lanches entre as metrópoles. Mas há muito mais nesta história:

São Paulo sozinha movimentou mais de R$ 900 milhões – quase 20% de todo o delivery nacional. A metrópole funciona como um laboratório de tendências que depois se espalham pelo país:

  • Comida Saudável cresce 4%, sinalizando mudança estrutural nos hábitos
  • Padaria a tradição paulistana tem 3,3% de participação (vs 1,8% nacional)
  • Comida Chinesa mantém 2,7% do mercado apesar de poucas lojas
  • Doces & Bolos cresce 9% em pedidos, mostrando apetite por sobremesas com a chegada do frio

A diversidade paulistana cria um mercado equilibrado onde nenhuma categoria ultrapassa 24% de participação, forçando constante inovação.

O Rio de Janeiro conta uma história diferente. Enquanto São Paulo experimenta, o carioca mantém seus hábitos arraigados:

  • Lanches, Pizza e Comida Brasileira dominam 65% do mercado
  • Frutos do Mar tem o maior ticket médio entre as capitais: R$ 114,90
  • Pizza que custa em média R$ 66 está mais cara que em São Paulo
  • Açaí cresce 3%, afinal o inverno carioca é mais ameno

O carioca é o que mais gasta em Frutos do Mar, com ticket médio de R$ 114,90 – a sazonalidade nesta época não favorece, mas é uma oportunidade clara para restaurantes de outras categorias diversificarem o cardápio com boa margem.

Belo Horizonte: O Equilíbrio Mineiro

BH apresenta um perfil único que mescla tradição com surpresas:

  • Pizza lidera com 20,2% do mercado e ticket médio de R$ 61,50
  • Comida Saudável mantém crescimento estável de 3%
  • Carnes cresce 7% em pedidos – única capital com crescimento expressivo
  • Açaí sofre queda de 7%, sentindo efeitos do frio

O mineiro mostra disposição para gastar em qualidade: tickets médios consistentemente acima da média nacional.

Centro-Oeste:  Brasília é o destaque nacional

Brasília não vê fraqueza na demanda. A capital federal apresenta o cenário mais dinâmico entre todas as cidades analisadas:

  • Lanches são a preferência com 30% de participação (maior que SP e RJ)
  • Crescimento generalizado: 8 das 10 principais categorias cresceram
  • Doces & Bolos dispara 16% em pedidos
  • Comida Japonesa destoa caindo 5%, uma das poucas capitais com retração significativa

O brasiliense está experimentando, diversificando e, mais importante, repetindo pedidos. É um mercado em expansão acelerada que merece atenção especial.

Sul: Onde o Inverno Chega Primeiro no Delivery

Porto Alegre: O Alerta do Que Vem Por Aí

Porto Alegre funciona como um radar meteorológico do delivery brasileiro. Quando o termômetro começa a cair, os gaúchos são os primeiros a mudar seus hábitos – e os números mostram exatamente o que o resto do Brasil vai pedir quando o frio chegar.

Os sinais do inverno já são evidentes:

  • Doces & Bolos disparam com impressionantes 26% de crescimento em pedidos. É o maior crescimento do país – comfort food em sua essência
  • Padaria explode com 29% mais pedidos. Pão quentinho, café colonial, produtos de forno – tudo que aquece a alma gaúcha
  • Açaí despenca 13% – a maior queda entre as capitais. Natural: ninguém quer açaí gelado com 10 graus
  • Marmita cresce 13% – junto com a tendência nacional de busca por custo-benefício

O ticket médio confirma a história: Pizza a R$ 74,30 (o mais alto do Brasil) e Comida Italiana com crescimento de 10% mostram que no frio, o gaúcho não economiza. Prefere pagar mais por pratos robustos, quentes e reconfortantes.

Curitiba: O Laboratório de Tendências de Inverno

Se Porto Alegre é o termômetro, Curitiba é o laboratório onde as tendências de inverno são testadas e refinadas. A capital do frio brasileiro mostra padrões ainda mais extremos:

O fenômeno das Sopas & Caldos: crescimento explosivo de 28% em receita e 24% em pedidos – o maior entre todas as categorias analisadas. Quando sopas crescem assim, o inverno chegou de verdade.

Outros sinais inequívocos do inverno curitibano:

  • Doces & Bolos mantêm crescimento forte de 25% em pedidos
  • Comida Italiana cresce 9% em pedidos – massas, molhos quentes, comfort food italiano
  • Cafeteria cresce 17% – mais que Porto Alegre, mostrando maturidade do hábito

Mas Curitiba surpreende em algumas frentes:

  • Açaí cai apenas 2% – o curitibano é resiliente, tenta manter seus hábitos apesar do frio
  • Comida Saudável cresce 6% – diferente de Porto Alegre onde caiu 3%

O Mapa do Frio no Prato

Os dados revelam um padrão claro que todo restaurante deveria monitorar:

Vencedores do Inverno:

  1. Sopas & Caldos: alta de +14% em nível nacional nas últimas semanas
  2. Comfort foods (Doces, Padaria, Fondue, Massas)
  3. Pratos quentes tradicionais (Massas, Pizza premium)
  4. Bebidas quentes (Cafeteria em ascensão)

Perdedores do Inverno:

  1. Açaí e smoothies gelados
  2. Frutos do Mar
  3. Saladas e pratos leves

Restaurantes inteligentes já deveriam estar:

  • Desenvolvendo menu de inverno com sopas e caldos
  • Reforçando opções de comfort food
  • Preparando promoções de bebidas quentes
  • Ajustando mix de sobremesas para opções quentes

Nordeste: Cada Capital, Uma Personalidade

O Nordeste é onde encontramos a maior diversidade de padrões de consumo.

Salvador surpreende com a maior participação de Comida Chinesa entre todas as capitais: 4,4% do mercado, com ticket médio premium de R$ 62,50. É um nicho lucrativo que passou despercebido em outras análises.

Fortaleza mantém o equilíbrio com Pizza liderando (24,7%), mas mostra crescimento impressionante de 9% em Comida Saudável – o maior entre as capitais nordestinas.

Recife apresenta padrão mais tradicional, mas com uma peculiaridade: Comida Japonesa tem participação de 11,3%, a maior entre as capitais nordestinas, mostrando sofisticação crescente do consumidor recifense.

Conclusão: Um Brasil, Múltiplos Mercados

O delivery no Brasil não é um mercado único – são dezenas de mercados com personalidades distintas. Enquanto paulistano avança na comida saudável, o soteropolitano abraça a culinária chinesa. Enquanto o curitibano descobre os doces por delivery, o brasiliense experimenta de tudo um pouco.

Entender essas nuances não é apenas interessante – é fundamental para o sucesso. Em um mercado que fatura mensalmente R$ 5 a 7 bilhões e que continua evoluindo rapidamente, a diferença entre crescer e estagnar está em compreender profundamente seu consumidor local.

O mapa do paladar brasileiro está em constante transformação. A questão é: seu restaurante está preparado para navegar por essas mudanças?

O Que Isso Significa Para Seu Restaurante?

  1. Conheça sua cidade: Não siga tendências nacionais cegamente. O que funciona em São Paulo pode fracassar em Recife.
  2. Explore nichos locais: Comida Chinesa em Salvador, Doces em Curitiba, Pizza premium em Porto Alegre – cada cidade tem suas oportunidades únicas.
  3. Monitore a saturação: Antes de abrir mais uma loja de açaí, verifique se a demanda local justifica.
  4. Acompanhe os tickets médios: Cidades com tickets altos para sua categoria permitem margens melhores e investimento em qualidade.
  5. Diversifique com inteligência: O crescimento de categorias como Comida Saudável e Cafeteria mostra mudança nos hábitos de consumo.

Os dados apresentados são baseados em análise proprietária da MenuMind coletados diariamente em centenas de milhares de estabelecimentos em todo o Brasil. Para análises personalizadas do seu mercado e categoria, entre em contato com nossa equipe.

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